segunda-feira, 28 de junho de 2010

Afeição

 
Eu poderia descrever você das formas como eu imagino, lidando apenas com as luzes fracas da sala de estar, a sua sombra tomando conta do sofá, seus olhos observando sobre o óculos aquilo que se enxerga somente a olho nu. Eu taparia toda a minha privacidade se soubesse que com esses mesmos olhos voce me diria tanta coisa. Eu me deixei ser traduzida, suas mãos que bem levemente iam lendo por entrelinhas as alegrias e desesperos da minha vida, tatuadas na pele, com a mesma firmeza que prendo o ar pra não deixar escapar nada. Ah se eu soubesse que me levaria tão bem nas palmas das mãos teria sido mais firme, grudaria os pés no chão, as mãos na parede, pra que não me arrastasse assim pro seu lado. Eu teria acendido as luzes, posto a mão nos seus olhos só pra não me perder dentro deles, pra não cair nesses poços sem fim, que sugam as incertezas do meu coração e levam pra sabe-se lá onde. Eu poderia descrever você como um simples cara que conheci, mais um homem na minha vida, mais um corpo que me sustentasse as mágoas, mais um sorriso que me abrisse as portas, mais um abraço que me escondesse. Estou acostumada com a sua mão segurando a minha, um encaixe, que se tivesse sido combinado teria dado errado. Eu poderia fingir que não ligo a mínima quando liga pra mim e que me deixa louca só de imaginar você sorrindo, eu poderia muito bem te dizer pra calar essa boca, só pra que eu não escutasse a sua voz bem pertinho de mim e sentisse esse arrepio que começa e não acaba nunca. E eu te faria acreditar que no teu abraço ainda sou a mesma. Já não sou mais. Eu posso muito bem te dizer que quando você tá do meu lado tudo fica normal, eu posso te convencer que quando você tá perto o meu coração não bate mais rápido. Poderia muito bem, sim, eu poderia muito bem te deixar de lado, e sobreviver sem as formas como eu te imagino.

Marcella Casari

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