quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sobrenome do amor


"_Eu queria que nós pudéssemos ser amigos...
_Engraçado. É a última coisa que eu quero"
(House)


Ainda que em dias sem tempo quem sempre arranja tempo para aparecer é ela, a saudade. Em meio a corridas para cumprir horários, leituras dinâmicas para entregar tudo no prazo ela sempre chega trazendo a presença de dias que não voltam. A ciência avança e inventam solução para tudo ou quase tudo, mas ainda não tem um jeito de se voltar de fato ao passado e de se reviver nem que seja por um instante algum momento feliz. Eu trocaria qualquer dia do futuro por um minuto de novo ao lado de quem me rouba os pensamentos. Também não há nada que tenha sido inventado que nos faça viver no presente, estamos sempre presos em um tempo que não é o agora. Estamos no passado, na lembrança feliz, na tristeza ainda não superada ou esperançosos pelo futuro no qual tudo voltará a ser como no passado ou tudo será diferente do presente. Estamos até mesmo no futuro mais próximo aguardando o relógio marcar o fim do expediente para poder ser feliz na volta ao lar ou para aproveitar o fim de semana com os amigos. Nunca estamos no presente nem que seja desejando nunca esquecer o que se vive agora. Algumas vezes a gente queria mudar aquele momento em que tudo mudou, repetir aquele abraço, retribuir aquele beijo, dizer que amava e não sabia, dizer que sabia ou até dizer que amava e sabia, mas temia. Outro dia eu pedi que ele voltasse e durante mais um compromisso eu o vi de novo, à minha frente, lindo. Era ele, era eu, o tempo mesmo que por um instante o trouxe de volta. Mas aos nos olharmos, surpresos, mesmo que por segundos reconhecemos que a gente não mais se reconhecia. Era ele hoje, era eu hoje, e o que vivemos já estava no ontem, não éramos mais como antes e não adianta a gente voltar, pois o que havia não volta junto como que por mágica. O amor é como o sono em noite de insônia, se você não está atento e sonha junto no exato momento em que ele chega o tempo passa. Do mesmo jeito se você não está atento no momento em que alguém chega o tempo passa e te resta a solidão. Então se tem que aceitar que o lugar dos amores que não deram certo é na lembrança e não no futuro. Não na lembrança amarga das culpas e dos erros, mas na lembrança doce de quem te deu momentos felizes. E as lembranças acolhem o que chega ao fim no amor, pois o que termina no amor é o relacionamento e não o sentimento. A relação pode durar dias, meses ou anos e um dia acabar, mas o sentimento pode ser para sempre. Pode se continuar amando, mesmo sem mais ter, ver, ouvir, mas ainda se sentir. A lua minguante tímida intimida a confessar esse amor crescente que deixa a alma cheia de vontade de te ter na nova, nova vida que a gente teria se no céu alguma estrela cadente pudesse mesmo sonhos realizar. Então, lua, eu te digo que você estava sobre nós quando por segundos nós dois nos vimos de novo testemunhando que eu não mais vejo, não mais ouço, mas ainda sinto e amo, e no dia seguinte - e em todos os que se seguiram - chega a saudade, que tantas vezes é o sobrenome do amor, para me dar de volta o nosso tempo. Assim, confesso, sim, ainda quero você como o tempo não quer nada além de ser eterno. E eu sigo pensando em como seria se você estivesse aqui ou quem sabe se eu estivesse aí.

Ruleandson do Carmo

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